terça-feira, outubro 31, 2006
domingo, outubro 29, 2006
Promoção da Obra Literária e Disputagem Comercial dos Escribois e das Escrivacas
A propósito da lógica das vedetas literárias de primeira água portuguesa, inicia-se a segunda fase do curso e-learning sobre Promoção da Obra Literária e Disputagem Comercial dos Escribois e das Escrivacas. Sendo, ou não, nefasto ao espírito do ser humano, o livro infame é o mais vendável num sucinto espaço de tempo.
Apreende-se, que as obras de literatura afiada que nos bombardeiam com verdades e conspirações são acolhidas por uma juventude tola, que sustenta as alegorias da caverna de Platão. O grave é que tal literatura é protegida por uma geração mais idosa em que a sonsice, o discurso neo-europeu e o paradigma de se ser culto é um be-bop à marmita de uma minoria indignada, pensante e silenciosa.
O facto, é que todo o escriboi(vaca), tem a sua recompensa e fatia de sucesso por tamanha piroseira editada. O enredo e frases atómicas levam à absorção de todas as empregadas de centro comercial, utentes da Carris e do Metro, falsas mães de família infiéis, clássicas excêntricas, população masculina com perturbações do orgasmo, homens que usam meias até ao joelho, que se sentem sozinhos e tentam reprimir a sua rebarbadice.
Miguel Sousa Tavares pretendeu meter os portugueses a ler, o Cabeças com Asas pretende colocar os portugueses a escrever, a bem do saber nacional, em missão solidária pela cultura de massas e sem subsídios do Ministério da Cultura.
Princípios e Conselhos a Reter Sobre: Promoção da Obra Literária e Disputagem Comercial
- Compreender que o livro é um legado valiosíssimo para a humanidade, porém nos tempos actuais não interessa em absoluto para nada.
- A obra literária é sobretudo um veículo de projectar o escriboi(vaca) junto dos media e dos leitores deserdados de cultura e favorecidos de dívidas financeiras.
- É primordial que o escriboi(vaca) seja um excelente penetra, um general vitorioso nas crapulices do meio editorial e mestre na barbárie da dissimulação.
- As discrepâncias, incoerências e plágios não são uma vergonha. São dignificantes e uma forma de marketing da obra do escriboi(vaca).
- A personalidade e o modo de estar do escriboi(vaca) tem de ser um reflexo contínuo da personalidade, da instrução qualificada, experiência e cultura que os editores e livreiros possuem. Nota, não adianta justificarem que a publicação de livros cretinos e decadentes são estratégias para custear bons livros que uma minoria lê.
- Se possível, anunciar a obra calamitosa um ano antes noutra editora, fazer trapalhices brutais, uma encenação real de espionagem editorial, ficar familiarizado com o meio editorial e apostar na editora do amigo de traduções vergonhosas, capas florais e desconhecimento em artes gráficas.
- Em literatura light a comercialização da obra não é permitido o fenómeno da cerebrelização. A escrita, a divulgação e a venda foca-se somente na consciência anatómica das partes baixas ocultas.
- A luz da ribalta e a publicidade luminosa é conseguida através do esforço árduo do autor na promoção do seu trabalho, ou seja, há que impulsionar a própria vaidade, e oprimir ou gratificar o cardápio de referências, as designadas cunhas.
- O escriboi(vaca) e o editor cúmplice devem ter em sua posse uma agenda de amigos jornalistas e fotógrafos do jet 7.
- Há que alimentar um certo suspense não em torno da obra merdosa mas sim, do escriboi(vaca). O público tem de desejar conhecer a vida íntima, o meio social, a história clínica, história fodal e relações amorosas impossíveis do autor.
- É igualmente indispensável uma pós-graduação na arte de dominar os cordeiros pseudo intelectuais.
Como Identificar um Cordeiro Pseudo Intelectual?
Figuras susceptíveis de se vislumbrar a ideia de infinito concentrada na estupidez natural de criaturas humanas.
Em geral são réplicas fisionómicas, e de estilo, de modelos tão antagónicos e próximos como: Miguel Portas e Paulo Portas.
Figuras que usam bigode, lenços, gravatas às cornucópias ou cabelo despenteado.
O Público, o Jornal de Letras, o Le Figaro e o Courrier Internacional funcionam como acessório de moda.
Idiossincrasias à parte, o engendro de se viver nos extremos é um modo de hipocrisia e o sustento do próprio vício de se ser intruja, isto é, um orgulho por se deambular em cenários do Bloco de Esquerda ou CDS/PP.
15 Passos para Lançamentos e Divulgações de Sucesso
1 – O espaço escolhido para o evento deve ter uma amplitude mediana para que haja sempre “casa cheia”;
2 – Divulgar o lançamento nos meios de comunicação social, livreiros e livrarias das grandes superfícies comerciais;
3 – Há que manter óptimas relações com o forrobodó da pretensa elite portuguesa. São excelentes animadores em qualquer lançamento fastidioso com as suas aldrabadas acerca de uma obra literária;
4 – A expressão corporal e facial, bem como, a elocução oral e imagem devem estar em consonância com os seguintes estereótipos: fashion, putéfia rasca, escanzelada sem prestigio francês, figura humilde autodidacta, metrossexual, quarentão divorciado de sorriso amarelo, ser-se aparentemente inteligente e de humor idiota;
5 – Os lançamentos devem ser à tarde ao final do dia;
6 – Caso se opte por um lançamento em bom estilo revista Caras, deve-se difundir ao máximo o evento “socialite”, sendo obrigatório o uso do livro do escriboi(vaca) na mão ou debaixo do braço durante todo o evento;
7 – Para um lançamento literário ser “de gritos” e bombástico, há que garantir que pelo menos compareçam 15 amigos, 10 conhecidos e 5 vizinhos. Os colegas de trabalho é um mal a evitar;
8 – A presença da figura paterna na divulgação e esclarecimento da obra é uma fiança grotesca para dar credibilidade à obra, ao garganta funda e ao autor de camisas aos quadrados cada vez mais magro;
9 – O beberete, o cocktail é sempre um atractivo, o pessoal de letras e restante sociedade são bichos esfomeados que anseiam por caca;
10 – Convêm um padrinho ou madrinha estar incumbido de demagogia literária, enfiar o barrete ao público numa total ausência de criticas literárias. Haja lugar para disseminar virtudes e o carácter sábio;
11 – Em opção deve existir uma figura na qualidade de amigo de hora de lançamento, que marque o evento com frases ultrajantes tais como (existem piores):
- “Vendeu-se milhares nos E.U.A..” (o livro nem sequer foi editado no estrangeiro…);
- “É uma obra-prima.” (segundo um actor de telenovela da TVI que nunca leu o livro…);
- “É um best-seller.” (o livro tinha saído no dia anterior…);
- “É um escritor brilhante.” (nunca ninguém leu e viu o gajo tão ou menos gordo na vida…).
12 – Promover uma descentralização de cultura bimba sob o triunfo de “pluma caprichosa” e discutir o êxito da obra à la mode do programa “Eixo do Mal”;
13 – O manuseamento dos tops por portas travessas é uma probabilidade para uma terceira edição garantida do livro;
14 – Projectar que o livro vai na 10ª edição, embora na realidade a obra se situa na 4ª edição (talvez conte para efeitos numéricos e contabilísticos os livros que são oferecidos aos amigos);
15 – As entrevistas aos meios de comunicação social são expressamente obrigatórias. É útil cair no ridículo, estar desprovido de factos verídicos nas obras de não-ficção. É desejável rebaixar a concorrência e ser uma máquina de não honestidade sob o paradoxo de personna culta que caceteia o público burrinho.
Duas Citações de Cartola a Usar em Qualquer Lançamento
"Só um livro é capaz de fazer a eternidade de um povo." Eça de Queirós.
"A literatura não é senão uma das críticas multíplices manufacturas da liberdade." Latino Coelho
A carreira literária do escriboi(vaca) é garantida quando o primeiro livro é um ícone de desprezo pela cultura de um país que ainda, mantém a tradição genética de importar ideias e inovações dos outros. Saliente-se que a moda de literatura supérflua de supermercado foi um mal necessário. Este fenómeno social veio reunir os anti-especialistas, bem como, críticos literários não vendáveis no que concerne à questão do terrorismo mental da vulgaridade literária, face a uma sociedade que se rege por estatísticas, sujeitos que usam cuecas fio-dental e cornudos(as). As coisas interessantes e as pátrias intelectuais são ignoradas, ou a sua existência é desconhecida. Pois, todo o comportamento desviante e o livre-arbítrio do indivíduo são aglutinados. Mais uma vez, todos os que habitam nos extremos da sociedade globalizada e massificada que negam chavões são sempre anulados. Haja coesão e sobrevivência do grupo dizem. Penso que não se deve censurar os escroques da palavra e da escrita, seria um atentado à própria concepção de livre-arbítrio. Todavia, ciente que não saber nada é o caminho mais fácil para a maioria dos seres humanos sobreviverem, considero que os escribois(vacas) são exemplos que podem auxiliar a combater a nossa irracionalidade, diferenciarmo-nos dos demais animais e começar a pensar. Mas, aqueles que desafiam o pensamento, mais dia menos dia, acabam por ganhar uma viagem sem regresso ao manicómio.
domingo, outubro 22, 2006
Constatações Heterossexuais
sábado, outubro 21, 2006
Entre-temps, Cinéma en Ville
quarta-feira, outubro 18, 2006
À Luz do Romantismo...
domingo, outubro 15, 2006
O Papa Não Foi Asfixiado, Os Leitores É Que São...
sábado, outubro 14, 2006
Anti-absurdo ou Sistema Maravilha
Outra situação que me caustica, e causa-me uma ligeira comichão no couro cabeludo é o processo de Bolonha, um processo mal enjorcado ao serviço da U.E.. Manifesto o meu agrado quanto ao polifacetismo dos Senhores Professores Doutores portugueses que nos impingem nas faculdades, Professores esses versados em todas as cadeiras, especialistas em todas as matérias, tratam-se de pequenos Nunos Rogeiros em directo para as Sic's notícias do ensino, monstros da academia, autênticos tapa-buracos em prol da benéfica formação aberrante dos alunos. Será o degredo total? Não sei… todavia, sinto-me ligeiramente humilhada e inferiorizada nesta virtual hierarquia do saber. Fechando os olhos, cause I’m sensible person, not a incredible machine, consigo compreender que os cavalheiros académicos têm de… ganhar a vida, mas eu já tenho uma e convosco “amigos” fica num oito! Além Europa, imprudências administrativas e professores falsificados made in Portugal, existem sempre figuras brilhantes e bem sucedidas que, em linha pragmática, contribuem para o polimento de mentes mentecaptas e anulam um mesmerismo infiltrado numa sociedade que se quer imperativamente obtusa. Para os tipos de comportamento turístico, a chatice destes tempos modernos do ensino superior, é que anteriormente o pessoal tinha 4 horas de aulas e 8 horas de borga, com Bolonha a fanfarronice inverteu-se.
domingo, outubro 08, 2006
Como Ser um Escriboi ou uma Escrivaca em 5 Minutos
Os requisitos mínimos necessários ao perfil de Escriboi(vaca) são os seguintes:
1 - Não usufrui e desconhece as capacidades encefálicas
2 - Ser irreversivelmente irritante;
3 - Não saber nada de nada;
4 - Refractário na trapaça;
5 - Acrobata pródigo na prosa plagiada;
6 - Pretensioso e não intelectual;
7 - Notoriedade pró imbecilidade;
8 - Hereditariedade intelectual manolo-francesa ou degeneração intelectual da América do Sul;
9 - Importação de referências literárias ocidentais de população feminina submissa como: Danielle Steel, Amanda Quick, Nora Roberts e os famosos romances-de-cordel da Harlequin;
10 - Ser licenciado pelas agruras, relações sexuais e sacanices que comete;
11 - Ter lido os Maias de Eça de Queirós no ensino Secundário;
12 - Ter lido aos 16 anos de idade o Memorial do Convento de José Saramago e achar-se capaz de escrever prodígios maiores (como o Dan Brown português);
13 - Dizer que o filho tem os olhos de cor de piscina (Rebelo Pinto);
14 – Possuir um léxico de 2000-3000 vocábulos;
15 - Obrigatório ter na prateleira maioritariamente livros da Oficina do Livro e do Tiago Rebelo, evidencie-se da Margarida Rebelo Pinto, ou travar conhecimento e profunda amizade com um garganta funda;
16 – Utilizar estratégias que desencadeiam a perda de tempo, escrevinhar a pensar no público não autónomo, não pensante;
17 – Ser abominável em termos literários para uma minoria;
18 - Desequilibrado, ninfomaníaca e psicopata;
19 – Ser esperto, de certo modo vender-se.
Primeira Prelecção
Ignorar de todo o conceito de inteligência e utilidade de um livro;
Segunda Prelecção
Escrevinhar com base na técnica proficiência ruminante indigente e prosa escassa segundo os métodos, passo a divulgar:
- Colecção primavera/verão 2007 de luxo;
- Sentimentos em estado líquido e standardizados;
- Conselhos Cosmopolitan,
- Método de 3 em 3 parágrafos uma citação celebérrima;
- Método copy paste;
- Método selecção de obras integrais de autores norte-americanos.
Terceira Prelecção
O género literário deve ser susceptível de ter diversas designações tais como:
- Não ficção;
- Ficção não não ficção;
- Não ficção garganta funda;
- Literatura light;
- Romance coitus interruptus;
- Novelas clinex.
Quarta Prelecção
Escrevinhar uma obra literária totalmente péssima, aldrabada, insensata, deprimente, repleta de gajas não carismáticas, muito non-sense, cheia de Don Juans, amantes, homens ricos, homens fashions, cabrões, coitadinhas e coitadinhos.
Escrevinhar de acordo com a pequenez do povo imitador, que lê o que lhe é imposto e incutido. Partir do princípio que o público é otário.
Quinta Prelecção
A temática e o enredo devem ser simples, redundante, supérfluo e ejaculatório. Centrar-se em latentes projecções pessoais e teores libidinais no limiar do pornográfico, poligamias expressas, triângulos amorosos, centros de estética, bons restaurantes e hotéis, coca, uísque de 20 anos ou mais, viagens, novos-ricos, famílias tradicionais, putas, escândalos, má sorte e mau olhado, prejudicar outrem, promoções profissionais a custo zero, depressão, morte de figuras públicas, factos políticos inexplicáveis, pinceladas de eventos culturais e fenómenos sociais não científicos.
Nota, se pretende um modelo científico tipo Clara Pinto Correia, há que plagiar um americano. Caso eleja um modelo Clara Ferreira Alves, há que manter relações fluido-nhanhosas com pseudo intelectuais, políticos, editores, jornalistas, passar sempre a mão no ombro da velhada e citar uns quantos gajos que a maioria do público desconhece, deste modo, sem hipótese para cometer erro.
Sexta Prelecção
Escrevinhar como se fosse uma elocução oral, utilizar as mesmas palavras de 3 em 3 parágrafos, esquecer os nomes das personagens e o enredo.
Predominação de frases sem conteúdo semântico para encher chouriço e, para traduzir uma ideia quanto ao modo, disposição e maneira, empregar de 2 em 2 frases, o sufixo adverbial “-mente” (amavelmente, habitualmente, facilmente, lindamente…) como o Miguel Sousa Tavares. A gramática é dispensável porque ignorantia differt ab errore. A vulgaridade é necessária, as ordinarices são empregues para dar ênfase à coisa. A descrição das personagens é nula ou pormenorizada de maneira a que cada personagem corresponda a um capítulo.
Sétima e Última Prelecção
Não fazer uma revisão do original. Enviar para o editor amigo, uma mão lava a outra, uma prestação de um favor há muito pedido. Marcar a reunião, trocar dois dedos de conversa e fluídos. Solução de recurso, pagar do seu bolsito a própria edição.
quinta-feira, outubro 05, 2006
Transparências Enubladas
Condição Humana
Peço desculpa ao acaso por lhe chamar necessidade.
Peço desculpa à necessidade se todavia me engano.
Não se zangue a felicidade por a tomar como minha.
Esqueçam-se de mim os mortos porque já mal se me esboçam na
memória.
Peço desculpa ao tempo pela quantidade de mundo que por segundo omito.
Peço desculpa a um amor antigo por considerar este novo o primeiro.
Perdoem-me as guerras longínquas o trazer flores para casa.
Perdoem-me vós, feridas abertas, por me ter picado num dedo.
Peço perdão a quem grita do abismo por este disco de um minuete.
Peço desculpa às gentes nas estações, pelo meu sonho às cinco da manhã.
Sinto muito rir-me às vezes, ó esperanças perseguidas!
Sinto muito, deserto, não correr uma gota de água.
E tu, gavião, há tantos anos o mesmo, nessa mesma gaiola,
de olhos fixos sempre no mesmo ponto, sempre imóvel,
desculpa-me, mesmo se fores ave empalhada.
Desculpa-me, árvores cortada, as quatro pernas da mesa.
Desculpem-me as grandes questões pelas respostas pequenas.
Verdade, não me prestes uma atenção forte de mais.
Coragem, concede-me a generosidade.
Tolera, mistério do ser, o eu depenicar linhas da cauda do teu vestido.
Não me acuses, alma, por tão raro te ter.
Que o tudo me desculpe eu não poder estar em toda a parte.
Quem me desculpem todos, por não saber ser um e uma.
Eu sei que, enquanto viver, nada me justifica, pois eu própria a mim
sirvo de estorvo.
Não me leves a mal, fala, eu requisitar termos patéticos,
e acrescentar depois dificuldade, para que pareçam leves.
terça-feira, outubro 03, 2006
Insondável Volúpia
segunda-feira, outubro 02, 2006
Hoje...
domingo, outubro 01, 2006
Últimas Considerações à Nabice "Literária"
Na passada Sexta-Feira, por volta das 19h30, peguei em mim, e fui apreciar a vinda do circo pobre à cidade, ou seja, fui até ao lançamento da embustice de O Último Papa, que foi contemplado por uma escassa plateia. Permitam-me, que quase adivinhe, que a plateia era composta exclusivamente pela equipa editorial, alguns amigos, distribuidores da “obra”, seguidores de José Viegas e um ou dois curiosos.
Devo dizer que não se registou literalmente uma liturgia de lambe cus, em paradoxo, assistiu-se a uma espécie de velório à consentida putrefacção e leviandade literária, encerrada num cenário musical, aquém do esotérico e distante do mórbido. O holofote dirigiu-se para uma projecção do “escritor” em que, se subentendia, um bajulamento doméstico ensaiado, uma glória à conspiração que, afinal, resulta numa mixórdia de ficção e verdade segundo o mesmo. Por outras palavras, assistiu-se a um trilhar civilizado do emergente “escritor” parvónio, que se espalha ao comprido no dia do lançamento e, na sua entrevista ao Público de Sábado e noutros meios de comunicação social. Contudo, apenas marquei presença no lançamento por breves momentos e, retirei-me, devido à minha falta de paciência para conjecturas não verosímeis, para ouvir gente monocórdica que nada sabe, diversos custos de oportunidade, porque advogo uma rentabilização do meu tempo precioso, ausência de público, um beberete desgraçado, uma tremenda dolência pelo uso das ruínas do Convento do Carmo como espaço para uma embustice, a colocação dos poucos livros não estavam dispostos segundo o Feng Shui, porque não corroboro com estratégias de marketing e há que preterir por uma ida ao Bairro Alto para um tilintar de copos. Mas, face à minha teimosia insubordinada, obrigo-me, mais uma vez, a formular algumas considerações de maior interesse.
Há que criticar, novamente, o exibicionismo desmedido, bem como, as ilações relativas ao sucesso do livro pois podem ser uma armadilha como se verificou esta Sexta-Feira. Por isso, advirto o “escritor” criativo para controlar a sua gula pelo protagonismo e pela ribalta, de forma a melhor satisfazer a sua ambição injustificável.
Observe-se também, que o cartaz de O Último Papa, graças ao sensacionalismo, assemelhava-se a uma apresentação de um livro fantástico com requintes de malvadez, que tenta atemorizar “agora, outros inocentes vão morrer” e dirigido a um público de jovens adolescentes.
No que respeita à fraca adesão do público, aconselho de forma desinteressada, que para um eventual lançamento póstumo, este deve ser realizado num espaço consideravelmente menos amplo, para que se pareça que a sala está repleta de leitores e convidados, com o objectivo de não se atingir a latitude do insucesso da coisa.
Quanto ao Luís Miguel Rocha considerar-se um escritor autodidacta, ou seja, aquele que aprende sem mestre, as pessoas partem do princípio, que haja da parte do “escritor” um aproveitamento condecoroso das suas capacidades cognitivas e intelectuais e, que lhe seja reconhecido o mérito e, não pulhices e escândalos, sobretudo, ao evidenciar um discurso descabido, incoerente que despreza a inteligência do público leitor.
Por conseguinte, devo mencionar que não basta romancear as conspirações. Em vez de se apresentar justificações das trapalhadas, é preciso anunciar uma simplificação acessível dos factos ao público e, não afirmar que a “obra literária” é, no final de contas, uma mistura de ficção com a verdade. Recordo que numa entrevista que o “escritor” concedeu à RTP, afirma que a diferença entre O Código Da Vinci e O Último Papa é que este não é um livro de ficção!
É igualmente hilariante a dispersão pela intrujice, saber-se que a editora Saída de Emergência efectuou uma tiragem de 30 mil exemplares de O Último Papa numa primeira edição. Note-se, que as tiragens no nosso país são entre mil e dois mil exemplares devido ao nosso pequeno mercado. Assim, suspeita-se a confirmação que esta gente não é de todo pragmática, desconhece o mercado literário português ou, subestimam as avaliações do público leitor e da concorrência editorial.
A palhaçada ainda é maior quando, o jovem “escritor” emergente, assume que lhe foi imposto escrever o livro com a missão de revelar a verdade às pessoas. Subentendo que tal afirmação é um insulto à inteligência de outrem, uma demonstração de desonestidade perversa ao esconder as suas intenções pretensiosas e de um descaramento atroz. Não sei… mas, enquanto estive presente no lançamento não dei conta que um sujeito estivesse a apontar uma arma ao Luís Miguel Rocha, pelo contrário, lá estava o “escritor” a regozijar-se com seu discurso de trazer por casa.
Calculo também, que o pequeno Dan Brown português ao declarar que “vivemos numa realidade ficcionada”, per si, é uma óptima razão para se atingir a realidade translúcida e não elaborar uma sobreposição ficcionada.
Note-se, que Luís Miguel Rocha ainda dá cartas na invenção de designar a sua fonte de “garganta funda” ao que podemos descortinar, numa suposição audaz, que se trata de uma homenagem à película pornográfica Garganta Funda e aos seus tempos de puberdade. Ou será que o autor quer fazer deste espectáculo um Watergate case?
Num desenvolvimento extraordinário dos acontecimentos, o emergente “escritor” declara ao Corriere della Sera e aos media portugueses, que conhece o assassino e que este lhe entregou em sua posse os documentos que confirmam o assassínio do Papa João Paulo I. Logo, se algum dia se se confirmar tamanha tramóia, Luís Miguel Rocha pode ser acusado de má fé e, como ilicitamente colaborou no encobrimento dos devaneios de um homicida, obstruiu e usurpou a verdade dos factos. Absurdo por absurdo, até já se pode antever um novo policial literário.
O “escritor” autodidacta, na sua abençoada impertinência e habitual estupidificação, diz que não se preocupa com a credibilidade dos documentos nem dos factos. Parece que não se deu ao trabalho de realizar um trabalho de investigação e apurar a autenticidade dos mesmos. Actualmente ousa entregar a investigação nas mãos dos jornalistas, isto é, “toca a passar a pasta”. Em contradição, o autor inepto, desde 2005 difunde e garante escrever toda a verdade sobre o assassinato do Papa e que o livro, mais uma vez, não se tratava de uma obra de ficção.
Constate-se igualmente, que Luís Miguel Rocha a priori veio dizer que o seu “livro” seria editado em 50 países, presentemente, vai ser publicado em 22 países.
Mas, o editor incutido pela gabarolice, igualmente “mete os pés pelas mãos”. Se antes afirmava que o Dan Brown escreveria e iria reconhecer o autor inábil com uma frasezita na contracapa, tal não se verificou.
Quanto a Francisco Viegas, um intelectual estimado, perdeu prestígio ao "apadrinhar" Luís Miguel Rocha. Orienta-se por um discurso de anulação de responsabilidade ao considerar que todo este alarido é uma tese que espera estar documentada. Embora, exista a probabilidade de tudo ser desmentido a curto prazo. Quanto às qualidades literárias e referências do jovem autodidacta essas são inteiramente desconhecidas e não apreciadas.
Em resumo e sem lamentações, como é sabido nos tempos hodiernos o requisito exigido para se alcançar o êxito comercial, é apenas escrever sobre tudo, TUDO, excepto a verdade. Por tudo isto, vender papel por vender, manter a indústria da conspiração por manter, mais vale cuspir na nossa sociedade civilizada que se prepara para atingir o estado de uma nova ditadura radicada na negação de pensar, discernir, reflectir e concluir. Diversos personagens aproveitam-se desta situação e consideram, mais uma vez, que o público é uma abjecta marioneta obtusa susceptível de ser chulada.