quinta-feira, dezembro 28, 2006

Em Revisão... Alguns dos Álbuns de 2006 que Giram, Giram, Giram...

O efeito surpresa deste ano ficou a cargo de Bitter Tea, o álbum dos irmãos de New York que compõem a banda The Fiery Furnaces.






10,000 Days, um álbum de uma estética impar e multimédia pela mão dos Tool em registos progressivos, obscuros, enigmáticos e introspectivos.
Para ouvir: Roseta Stoned






Em linha continua o álbum Memorial fecha o ciclo negro da afirmação desta banda na cena do Heavy Metal e Gothic Metal, bem como, estreita a sua relação com o público português, e sob a lua tocam os Moonspell.
Para ouvir: Luna





Entre o acromático e melodias em vidro borboleta, o ouvido treme com Magenta Skycode em /////.
Para ouvir: Go Outside Again






Resplandecente, lírico e uma voz ingénua, do outro mundo ou não, Ys de Joanna Newsom.
Para ouvir:
Cosmia






Uma mescla de folk atormentado, vocalizações frágeis entre coros e ecos que assumem o protagonismo em cenários lascivos, etéreos e políticos em Failing Songs de Matt Elliott.
Para ouvir: Compassion Fatigue








Thom Yorke presenteou-nos com uma marcha eléctrica de registos musicais alquímicos em The Eraser.

Para ouvir: The Eraser










Sem apresentações e sob registos intimistas desta singer/song writer, The Greatest é um dos melhores álbuns de 2006 e da carreira de Cat Power.
Para ouvir: Lived In Bars





A lo-fi record, pressente-se que Julian Nation, oriundo de Melbourne, é o próximo génio de melodias em puro pop, de letras nostálgicas, autênticas e virtuosas em hipérboles musicais personalizadas no álbum, We Are All Writers.
Para ouvir: Halloween River Cruise








He Poos Clouds espelha a potencialidade do violinista suporte dos Arcade Fire, Owen Pallett, que na verdade, é um compositor nato que nos brinda com uma miscelânea de sons imponentes como em This Lamb Sells Condos. A ter em conta a capacidade criativa deste projecto musical, Final Fantasy.
Para ouvir: He Poos Clouds




The Radio Dept., uma comoção onírica traduzida pela repercussão reverbada e elementos lânguidos que cercam Pet Grief, o segundo álbum desta banda encantadora da cena indie sueca. Observação, um álbum a ter sempre à mão.
Para ouvir: The Worst Taste In Music (Extended)







O passado sónico desta banda mítica do rock alternativo deixa somente alguns vestígios em Rather Ripped, um álbum bastante criticado. Reflecte o amadurecimento dos Sonic Youth, e Kim Gordon apresenta-se em grande performance vocal. Destacam-se Do you believe in rapture? e The Neutral.
Para ouvir: What a Waste



Se a banda escocesa Belle and Sebastian colocam a tónica na busca pela vida, em paralelo, lançou-nos um excelente álbum que prova a busca da inconsistência sonora. Life Pursuit, um álbum registos divergentes que se estranham e entranham.
Para ouvir: Mornington Crescent

Elemento Água - III

The Collective Invention, Magritte
Do Mar para a Terra

Impreparado ainda
te procuro na sombra,
Venho adiante,
proa que deslizas,
maré que me renova.

Destroçado, um torso
lavado e límpido,
da própria água obscura,
eis o que à praia jogo,
na líquida impulsão,
atirado na areia
de sede mais ardente.

E na água me envolvo,
me afundo corpo novo,
e movimento, abraço,
e me confundo e me abarco,
os nomes me atravessam,
outros nomes procuro,
iguais ao dia que desejo,
à mulher que ondula
e da salsugem surge,
mais branca, mais real.

E é um torso, um dorso
que a água move,
trabalha,
donde despontam brancos
membros,
que na superfície ondeiam
e altos se levantam
cheios de luz.

Assim nasce o possível,
se mais fundo o procuro
e se largo demoro
na sede do ar,
no côncavo da água,
se mais fundo respiro
e formo os membros livres.

Aprendo a prender-te.
soltando-te
e impelindo-me
para a forma que desato
- rígida e macia
seiva que transluz.

Tronco é que te quero,
redondo animal
de delicadas palmas,
afeito às ondas
- largas ancas
rodopiantes pernas

- sobre a terra
mas formado no mar.


António Ramos Rosa, Sobre o Rosto da Terra (1961)

domingo, dezembro 24, 2006

sexta-feira, dezembro 22, 2006

The Nights Before Christmas

Do Natal ao Reveillon, o Cabeças com Asas sopra desejos acanelados aos leitores deste blogue, de abundâncias românticas, amorosas exaltações, luxúrias douradas, silêncios angelicais e pequenas porções de fantasias infantis. Rendições às histórias do reino das fadas, asas perdidas por caminhos estrelares e beijos sob o azevinho. Permitam-se invasões de incenso, cheiros nostálgicos, filmes passados, livros abertos e pensamentos secretos ao ritmo de anestesias musicais. Em pleno frio lunar os segredos são de abóbora e o coração bate suavemente ao abrigo do olhar do corvo. Domingo cadente, nascimento bem aventurado, se um dia vais morrer os prazeres deverão ser aveludados. Solitárias bocas que se tornam doces, o Solstício de Inverno chega.
Crescentes encantos de viver a cada dia e viagens oníricas nocturnas no próximo ano de 2007, são os votos do Cabeças com Asas.

sábado, dezembro 16, 2006

Polyphonie Sauvage

Em Polyphonie Sauvage deixo-vos com Band of Horses com o seu primeiro álbum, e sem dúvida um dos melhores de 2006, intitulado Everything All The Time. Por circuitos além Atlânticos, chega-nos esta banda originária de Seatle formada por Ben Bridwell e Mat Brooke. Um fenómeno de uma dupla indie que roda o holofote sobre registos musicais melancólicos, realçados pelo timbre de voz perfeito e categoricamente soturno de Ben Bridwell. Everything All The Time um álbum carismático pelas lyrics e sublimes composições quase sempre acústicas, que abraçam um quase heróico conteúdo emocional, como em “Our Swords”, “The Funeral” e “The Great Salt Lake”. No Cabeças Com Asas toca "First Song"…

sexta-feira, dezembro 15, 2006

A Bissexualização Gastronómica

Foto Montagem realizada por X
Antigamente pretendia-se socializar, actualmente deseja-se bissexualizar. Se existe um restaurante aclamado pelo roteiro gay Põe-te na Bicha, eu e outro amigo, pretendemos apostar numa casa de pasto com o nome de Casa da Gininha.
Grandes, pequenas Gininhas, a inchar e a encolher, entre cliente, é só escolher. Uma casa de pasto que não discrimina ninguém, para marialvas de bigode, para o dente de pororocas, apreciadores de pachocho estreito, chichisbéu de gosto apurado, apitos dourados abraseados, orgassemas mucosas e mangas de camisa palpitosas.
Com toda a cagança uma Gininha sempre dança, com toda pujança, uma Gininha nunca é mansa, se Gininha não cansa, enche a tua pança! Aceitam-se sócios.

Dedicado a Manuel do Bocado.

sábado, dezembro 09, 2006

Não Há Nada a Fazer com Essas Bestas

E se de repente... qualquer cidadão comum agisse da mesma forma como o executivo socialista português age? Onde o uso da comunicação é um mediador linguístico para ocultar em vez de revelar, onde se recorre a medidas tapa buracos para a resolução dos problemas reais e a putrefacção do exercício de poder é uma aposta em benefícios políticos próprios. Consideraríamos essa pessoa emocionalmente imatura ou, na melhor das hipóteses, neurótica.

Na sombra do princípio que tudo neste país deve ser colocado em causa, o Portugal moderno de Esquerda e de Direita lembra-me um texto de Chuang Tzu.

“Aqueles que despendem a sua inteligência tentando tornar as coisas numa só, sem se aperceberem de que elas são realmente a mesma, podem ser apelidados de «três da manhã»? Um guardador de macacos estava um dia a dar-lhes amendoins e disse, «Três da manhã e quatro à noite». Os macacos ficaram zangados. Ele retorquiu: «Se isso é assim, haverá quatro de manhã e três à noite». Os macacos ficaram satisfeitos. Nem o nome nem a realidade mudaram, mas os macacos reagiram com alegria e cólera (de modo diferente). O guarda também deixou as coisas seguirem o seu curso.
Por conseguinte, o sábio harmoniza o certo e o errado e confia na igualização natural. A isto chama-se seguir dois cursos ao mesmo tempo.”

Amadeo de Souza-Cardoso, Genial!


A arte é essencial para a alma, e apenas uma sociedade que esqueceu a alma poderá marginalizar a sua arte e os seus artistas. Invertidamente a Fundação Calouste Gulbenkian reuniu a obra de Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1917) no contexto de Diálogo de Vanguardas. Uma exposição além técnica, além limites e fronteiras, arte que cura, que educa a expressão imagicional. Cada obra uma inquietude a uma voz única e temperamental.

Se a obra deste português futurista negligenciado rompeu os cânones de representação da arte ocidental, tudo isto parece ser pouco, se considerarmos que a sua obra contínua e evolutiva pertence à esfera do mistério, convocando representações irredutíveis vinculadas à vastidão do significado, à profundidade da experiência do artista e mobilidade circular do seu trabalho que permite uma olhar flexível e uma contemplação emocional aos intérpretes funestos.

A visitar e a revisitar até 17 de Janeiro de 2007.

Cup of Tea


A propósito… já estamos em Dezembro e uma estranha corrente airosa sem a sombra de um bosque paira. As asas por aqui andam orvalhadas. Retornei…