sexta-feira, julho 21, 2006

Tónica Sombria


Na Sombra com Edgar Allan Poe, é o reencontro que proponho para dedo a dedo, página a página, lerem a colectânea de novos contos fantásticos, agora traduzidos para o público português, encerrados numa profunda sensibilidade bizarra, da proeminência da arte sobre a vida que se estende por: Leonor, O Diabo no Campanário, O Poder das Palavras, A Máscara da Morte Vermelha, Pequena Conversa com uma Múmia, Morella, O Demónio da Perversidade, O Enterro Prematuro, Caixa Oblonga, entre outros.
Não posso deixar de enaltecer o privilégio de participar neste livro, não como Nevrótica Aluada mas, como Nocturnal Clou, sendo Allan Poe um dos meus escritores de eleição. Escrevo uma pequena introdução que alude a passagens biográficas, genialidade literária, percursores apaixonados e a personalidade deste narrador da imaginação, e da densidade psicológica.
Como refiro em Na Sombra com Edgar Allan Poe, reflecte-se o mundo de Poe, um mundo de sombras, dos ciclos decifrados que perecem em nada, na possibilidade de no fim estar um começo, de mergulharmos nas profundezas da alma humana, de apreciarmos os estados mórbidos da mente e os recônditos esconderijos do subconsciente, de conteúdos que abraçam uma forte carga emocional perturbadora, por vezes, alucinante e em conteúdos ilusórios complexos. Entre o véu da inquietude, entre achados de signos sinais e pela sensibilidade flagelada, deixem a porta entreaberta e alcancem o mundo fantástico e circundante deste visionário, que irá unir-se ao vosso isolamento no quarto escuro, ao intrépido acto vaguearem em peito aberto fragmentário, à inevitável corrosão do jardim mórbido da consciência que nos devolve sempre à projecção abstracta do abismo que monograma a alma.

O Dia Amanhece Com...

a genialidade e os mundos oníricos de...

Superbe! Superbe!

segunda-feira, julho 17, 2006

sábado, julho 15, 2006

"Prontos para se Enfiarem nas Calças de Ganga um do Outro"

Para este Verão...


tão necessário como um protector solar é este novo Guia disponível para toda a gaja que tem uma Rebelo Pinto dentro de si, ou tenha uma bomba inteligente...

sexta-feira, julho 14, 2006

Erotismo Nulo


Com as altas temperaturas, chegou o autêntico processo de Bolonha, numa trajectória contínua que passa por Barcelona e, agora, em Lisboa. Existe uma catadupa de manolos dispostos a pagar 20 e tal euros para ir ver uma feira do sexo que promove o “trabalho” erótico durante um par de dias.
Na minha modesta opina sodomizada pelo marasmo, acho que não há necessidade de ir à FIL ver vedetas porno ou comprar utensílios para o estímulo da relação fodal.
Ora vejamos, o Intendente, o Técnico, o Restelo, o Parque Eduardo VII, lá para os lados da Rua da Artilharia I, entre a Ajuda e Monsanto proliferam os verdadeiros monstros da cerimónia proxeneta, as excelências sexuais, serviçais da lubricidade.
Gajedo latino, machões que grunham, sabichões com o olho do cu murcho, pretensos fornicadores, há que percepcionar que é deveras superior um contacto próximo com a realidade do que ir a uma feira erótica. As criaturas que trabalham na rua são a verdadeira indústria do sexo. Dão ali o couro faça sol ou faça chuva, os 365 dias do ano, não pertencem a nenhuma forma corporativa e não se queixam. Com esta conjuntura privilegiada não são objecto de valorização, não saem destacadas nos jornais e não são incluídas na luz da ribalta. Além disso, para se ver esta feira de vaidades penetro-circunstanciais, dominadoras de alto gabarito, profissionais com um currículo invejável não custa qualquer guito. Acrescente-se que por todo o território, de Norte a Sul, existem vários “salões eróticos”, que ousam apreender uma atmosfera fodal à margem do bom costume moral e lei legislativa, sem ilusões ópticas, e em que cada sujeito, é o actor principal se tiver o nalgedo recheado de euros. Por tudo isto, não gosto de corroborar com injustiças e que não promovam o produto nacional genuíno.
Quanto aos utensílios sexuais são caros e há que poupar. Estamos em época de contenção e crise económica acérrima. Até podem ser preteridos por uma ida ao Mini-Preço à secção dos vegetais e utensílios domésticos, usar a puta da imaginação e voilá! Salva-se a perversidade e os momentos lúdicos de prazer em qualquer relação duradoura, instantânea, violenta ou desconhecida.
O cinema porno não fica à margem, como quem vai ali para o Camões, existe a relíquia do Cine Paraíso. Um éden de películas para todos os gostos, apetrechado com um clube de vídeo maravilha que divulga o sucesso Enfia-me a tua bélia no meu cilindro.
Afirme-se que este excessivo e adulterado deboche cultural de Lisboa é um ultraje miserável à escola da libertinagem e, à la belle époque, revelando o mau gosto e uma volúpia desprezada.

sábado, julho 08, 2006

Representações Mentais



É possível sermos os educadores da nossa personalidade. E nesta realidade sermos o que lemos.
O cenário apresenta-se caótico, desumanizante e industrializado, o capitalismo é uma roda-viva corrompida experienciada. O terreno é atolado por Frankenstein’s em miniatura. As instituições e os profissionais de educação fomentam seres humanos preparados para a produção ou para a inutilidade. A par disso, as vastas áreas profissionais cometem o crime de fragmentar a personalidade. Assim, as componentes mentais cingem-se por estar cheia de bugigangas com uma resultante perda de flexibilidade. No reino da massificação, a imaginação do dia-a-dia é extinta.
Para suportar a monstruosidade que cada criatura transporta, devia-se percepcionar o sentido de si manufacturado e, mais tarde, atingir o outro lado de se ser sublime. A receita é simples mas, não instantânea! Consiste em invocar-se imagens. As imagens atravessam a mente. Existem momentos que não possuem limites e impulsionam a imaginação para velocidades prodigiosas. Estas representações mentais são a matéria-prima para uma imaginação salutar.
As imagens são per si, o prelúdio para se desenvolver a tomada de consciência de atitudes e a forma como se vive. A fórmula de criação e polimento de representações mentais, radicam na leitura de diversos géneros literários. Com isto, também se pode estar a cuidar do inconsciente e desenvolver a competência de se saber lidar com ele. Por conseguinte, são necessárias imagens colhidas pelo Romantismo, a potencialização dos sentimentos, do subjectivismo e individualização e, igualmente, acudir-se a imagens macabras, sombrias de moldura gótica, de um terrível e perturbante racionalismo, presentes em Edgar Allan Poe passando por Lord Byron. Necessita-se tanto de contos de fada como de imagens estonteantes, frenéticas e vertiginosas de Sade, Beckett, Kafka e, das confissões asfixiantes e doloridas de Sylvia Plath e Anne Sexton. Assim, concebe-se condições para reflectir sobre o menos bom, o mal, o negativo, e anular a possibilidade de se ser uma vítima deplorável. Precisa-se de imagens eróticas de Anaïs Nin e Henry Miller para se manter a sincronização com o desejo e o prazer.
A par das imagens fixadas nos dramas familiares, recordações longínquas, devaneios dispersos, fantasias, sonhos nocturnos, medos e desejos. As imagens que se podem escolher, contemplar e absorver são uma espécie de alquimia transformadora da personalidade. Há que preencher a imaginação que irá narrar o quotidiano. Havendo a oportunidade de: "ajusto-me a mim, não ao mundo" - como Anaïs Nin o disse.

Voos de Verão - III

Numa margem a voz mental estratificada, do outro lado, as imagens que surgem como círculos em vidro borboleta. A fenda da imaginação… a fluir no post seguinte.
A arte não reproduz o que é visível, ela torna algo vísivel.
Paul Klee
Um livro devia servir de machado para o mar gelado que temos dentro de nós.
Franz Kafka
Paul Klee, Magic Garden, 1926

sexta-feira, julho 07, 2006

Com Gotan Project

Após um episódio de um chinelo perdido em tradução Cinderela século XXI, a noite aproximou-se e as almas saíram à rua para contemplar o trio franco-suiço-argentino. O regresso memorável de Gotan Project no passado dia 6, mereceu um Coliseu lotado que vibrou com o seu mais recente trabalho “Lunático”. O auge ficou a cargo dos registos de «La Revancha del Tango», fortemente aclamados pelo público. Destaca-se a voz ultra sensual e melancólica de Cristina Vilallonga, que acompanha o trio na maior parte dos temas e que foi acolhida calorosamente pelos espectadores.
O branco dominou as vestes, o negro é subjacente, um palco efervescente pelo ritmo, um concerto que soube a pouco pela sua duração.

Cibertango

A herança do tango do mestre Astor Piazolla com a mistura excepcional de electrónica, trip-hop, lounge e house e os peculiares cenários, efeitos de luzes e jogos de sombras foram a composição perfeita para uma suave noite voluptuosa. Eduardo Makaroff, Philiphe Cohen Solal e Christoph H. Müler tecem as linhas negras do tango, o alerta dos sentidos e a sublimação da música.

quarta-feira, julho 05, 2006

Um Bocadinho Poucochinho


Abram alas não para o Noddy mas, para o Santana! O regresso do bravo vencido que declarou tenebrosamente “estarei na primeira linha da disponibilidade, mas não na da evidência”. Após uma temporada assolada preenchida por uma travessia no deserto, acabou por encontrar o mapa do tesouro: regressar ao Parlamento e não incomodar, fazendo um “bocadinho” de política. Será isso possível? O que é isso de fazer politica no século XXI? A não perder os episódios da vida romântica deste noddyniano em digressão pelo Parlamento.

domingo, julho 02, 2006

Abismos Versus Crenças Geométricas

Missa Negra
O rasto do sol perdido morreu
No céu sacro como uma capa...
Minh'alma é um cardeal ateu
Que em breve vai ser feito Papa...
Como um crente estranho na alma luz... Mas só isto,
(E como fogo de horror a alma lhe esfria)
Cuspir na face de Cristo
E violar a Virgem Maria...
E apraz-lhe e apavora o crente ateu
Isto como um fogo e horror carnal –
Fazê-lo, e depois ser real Deus e o céu
E haver um inferno verdadeiro e real.

Fernando Pessoa, 30-04-1913

Painel Começar, Almada Negreiros

"Omnes Ingeniosos Melancholicos Esse"

Ode À Sombra
O teu corpo incorpóreo não se forma
De átomos, partes, nem é movimento;
Tua forma irreal não é uma forma.
A luz te gera, e o Corpo te produz
E és contrário da luz e claridade
E não tens como o corpo densidade:
É que vens d' Além-corpo e d' Além-luz.
Mistério revelado e impensável!
Nos interstícios da realidade
Que a ciência explicada não invade
És o ar em que bóia
O disperso universo (...) luminoso
Nem de partes de sombra és formada
És una e íntegra e não és alma
És exterior visivelmente nada.
Com teus lábios de (...) e mistério
Beija o meu ser que te medita, rente
A um pensamento inatingido e etéreo;
Unge-me o coração renitente
Da tua graça, e dá-me que
A luz é o Inferno esplendoroso
Que és a Forma Irreal.
Tu és a Antiga, a Essência, a Realidade.
O universo não é
A luz é só local, é sóis e estrelas
Num oceano de trevas
A cor é luz, e tudo é luz viva entre
Só tu és luz-ausente,
Só tu intersticias teu mistério
No mundo claro e aéreo.
Os corpos são de luz em sua essência
Em seu espírito de ser, real e nu,
E a luz bate num corpo e nasces tu.
Que vida é a tua? Qual a etérea ciência
Que há-de dizer à (...) compreensão
No vácuo verde e azul da claridade
O dia morre. Vai de luto no ar
Assim possa minha alma comungar
Como agora meus olhos alheados
Da sombra Eterna, Espírito e (...)
Quais ritmos de luz,
Sistemas, crenças, passam com seu fim
Além da minha consciência em mim
Minha alma os entrevê, não os detém
Com seu (...) olha do pensamento
E pensa em dor, se a realidade
Deles, e se o Mistério ali quiser!
Fernando Pessoa, 1910

Albrecht Dürer (1541), Melancholia I

sábado, julho 01, 2006

Em Lua Crescente

O fim-de-semana é sentido com...

O Sexo É Íntimo Da Religião?


Lugares sagrados, lugares em que se reconhece uma antiga quietude, lugares providos de uma atmosfera eléctrica – perpétuo fluxo existencial. Os sentidos são accionados. Percepciona-se a imagem, a cor, o som, o espaço, a atmosfera, o cheiro. As raízes são afundadas pelo amplexo sagrado. A religião é um sintético desejo latente para uma sensação física de êxtase.
Sabemos que o sexo é expressamente físico e, de uma forma implícita espiritual. A relação íntima dos corpos possui uma transcendência inata, intimista e única que supera as consecutivas tentativas manipuladores de a entender e controlar. É a partir desta relação, que se pode esboçar, uma fronteira comum com a religião. Entre o sexo e a espiritualidade existe uma conexão intensa e afectiva, que vive numa circunferência encoberta ou inconsciente.
À sombra da religião, o sexo conduz-nos a questões basilares interpessoais do quotidiano e formas de estar: prazer, amor, casamento, concepção. O ser humano a dado momento da sua existência miserável, procura entender a sua sexualidade, ir ao encontro do seu significado, das visões e dos valores. O sexo é um impulsionador criativo de vida quer espiritual, quer física. Por isso, há que responder às pulsões, aos ímpetos apaixonantes, a tentações ardentes e, usar a imaginação erótica. A sexualidade tem o condão de ser eternamente procriadora de relações, uniões e famílias.
À sombra do sexo, a religião é uma bússola interior que permite atingir a reflexão intrínseca e extrínseca. O vértice da religião e do sexo suscita questões que são geradoras de ansiedades, de desejos que incendeiam e susceptíveis de serem aliados à fantasia. Por exemplo, ao imaginar a relação de cada um com o divino, sendo esta uma solicitação de algumas tradições místicas, pode-se recorrer tanto a imagens de amor como de sexualidade. Com o recurso ao dialecto da religião é possível traduzir-se sensações de prazer.
É certo e sabido que a religião “oficial” (católica), reage de forma contrária. Adorna um palco mundial com preocupações de índole moralista. O sexo é encarado como pecado, excepto o sexo reprodutor. Tudo o que seja relativo à sexualidade é moralmente errado. É uma clara negação dos sentidos vitais, ignorar os chamamentos e dar lugar ao não prazer. Esta preocupação descomedida da Igreja, somente, reflecte o profundo envolvimento com o sexo. O moralismo ostentado oculta a ligação efectiva entre a religião e o sexo.
Por tudo isto, as criaturas não se deviam arrastar pela lama moralista mas sim, alcançar a espiritualidade e o significado da sexualidade, bem como, os prazeres sexuais na nossa religião. São dois lados da mesma moeda e ambos se defendem. A religião torna-se excessivamente espiritual. O sexo cai na suposição do puramente físico.

Voos de Verão - II




O corpo viscoso é um santuário de deuses abstractos. Existem noites que se procura a rendição para lá da sensualidade. Segue-se o próximo post...
Aqueles que resistem ao desejo fazem isso porque o seu desejo é suficientemente fraco.
William Blake
Gustav Klimt, Goldfish