É possível sermos os educadores da nossa personalidade. E nesta realidade sermos o que lemos.
O cenário apresenta-se caótico, desumanizante e industrializado, o capitalismo é uma roda-viva corrompida experienciada. O terreno é atolado por Frankenstein’s em miniatura. As instituições e os profissionais de educação fomentam seres humanos preparados para a produção ou para a inutilidade. A par disso, as vastas áreas profissionais cometem o crime de fragmentar a personalidade. Assim, as componentes mentais cingem-se por estar cheia de bugigangas com uma resultante perda de flexibilidade. No reino da massificação, a imaginação do dia-a-dia é extinta.
Para suportar a monstruosidade que cada criatura transporta, devia-se percepcionar o sentido de si manufacturado e, mais tarde, atingir o outro lado de se ser sublime. A receita é simples mas, não instantânea! Consiste em invocar-se imagens. As imagens atravessam a mente. Existem momentos que não possuem limites e impulsionam a imaginação para velocidades prodigiosas. Estas representações mentais são a matéria-prima para uma imaginação salutar.
As imagens são per si, o prelúdio para se desenvolver a tomada de consciência de atitudes e a forma como se vive. A fórmula de criação e polimento de representações mentais, radicam na leitura de diversos géneros literários. Com isto, também se pode estar a cuidar do inconsciente e desenvolver a competência de se saber lidar com ele. Por conseguinte, são necessárias imagens colhidas pelo Romantismo, a potencialização dos sentimentos, do subjectivismo e individualização e, igualmente, acudir-se a imagens macabras, sombrias de moldura gótica, de um terrível e perturbante racionalismo, presentes em Edgar Allan Poe passando por Lord Byron. Necessita-se tanto de contos de fada como de imagens estonteantes, frenéticas e vertiginosas de Sade, Beckett, Kafka e, das confissões asfixiantes e doloridas de Sylvia Plath e Anne Sexton. Assim, concebe-se condições para reflectir sobre o menos bom, o mal, o negativo, e anular a possibilidade de se ser uma vítima deplorável. Precisa-se de imagens eróticas de Anaïs Nin e Henry Miller para se manter a sincronização com o desejo e o prazer.
A par das imagens fixadas nos dramas familiares, recordações longínquas, devaneios dispersos, fantasias, sonhos nocturnos, medos e desejos. As imagens que se podem escolher, contemplar e absorver são uma espécie de alquimia transformadora da personalidade. Há que preencher a imaginação que irá narrar o quotidiano. Havendo a oportunidade de: "ajusto-me a mim, não ao mundo" - como Anaïs Nin o disse.
14 comentários:
Tens muita razão, gostei do post. Boa semana
Sincroniza-me é esses neurónios nevróticos, aluados, decapitados, frenéticos, com devaneios arquitectónicos barrocos e rococós, certamente devido ao abafo que o ar lisboeta desta última semana nos faz sentir, qual estufa e fábrica de ideias pseudo-originais... Sai um Martini bianco com muito gêlo, sff... Deixa cá pôr os pés em cima da mesa e folhear a Playboy!
Ler. Ler muito. Porque não até... conversar, conversar muito, conviver, conviver solto... aceder portanto, vertiginosamente, a mundos distantes e contudo ao alcance de um virar de página, de um escutar aberto. ...Aceder à alma de quem nos rodeia, ao modo como olha a coisa e pinta a manta em letras gordas, gestos, palavras, representações que poderão significar a oportunidade para reflectirmos e anularmos as possibilidades de sermos tão só, vítimas deploráveis (como é real essa tentação!)...
Possível então visitar céus e infernos, encarnar vítimas e culpados, ver o mundo de vários lados, regressar mais rico e disposto a viver sem medo pronto a abrir portas e a correr riscos...
O cenário que dizes apresentar-se caótico, poderá ser visto de muito lado! Dependerá ou não do que se lê? De com quem se convive e escuta, das realidades a que, envoltos nos braços de Maya, nos dispomos a dar corpo?...
Por outro lado, não estará o caos na origem do universo de que fazemos parte e, não será este composto de preciosas bugigangas e de uma salutar vanidade?
Um pior que o outro.. isto é mesmo pró Júlio de Matos esta pseudo-intelectualidade...uhuh
Apoiado uivomania...estou de acordo, mas na pratica as coisas são um pouco menos faceis...
Luzesombra.
"É possível sermos os educadores da nossa personalidade.". Também seria possível ou aconselhável escrevermos sobre algo em que acreditamos verdadeiramente. A não ser que sejam apenas belas frases de circunstância que, tal como Agostinho da Silva tão bem soube explicar, projectam os sentimentos para um quadro de parede e, no entanto, não fazem mais do anular a vida de quem as escreveu ou "pintou". Mas como o Agostinho não faz parte desse pórtico negro, talvez não tenha sido muito boa ideia citá-lo, ou melhor, referi-lo.
Ó R, com este calor a beirar os 40º a actividade neuronal é ainda menos frequente. Os meus mecanismos psicogenéticos estão ozonados como se constata no post. :P
Folheias a Playboy de manhã e à tarde reencaminhas os e-mails porno... Esse distúrbio da idade está a tornar-se obsessivo pah. Coisa maluca!
Bota ai, dois Martinis biancos s.f.f…
Uivo, uivo bons olhos te vejam... ;)
O cenário caótico refere-se à mão destrutiva do Homem e, não a processos orgânicos sobre a génese do Universo. Conversar é uma hipótese louvável mas, creio que ler bons livros é uma fonte muito mais enriquecedora para sermos mais imaginativos e, até usarmos a imaginação e sermos mais participativos nas conversas com o outro, nas nossas relações interpessoais. De resto, estou em concordância com as tuas ideias.
Ainda não fui presa. :P
No Júlio de Matos encontram-se seres humanos fantásticos, posso garantir. :P
Fp respondo-te com outra citação de Erich Fromm “Toda a vida de um individuo não é outra coisa senão o processo de dar à luz a si mesmo”.
Acrescento ainda nas sábias palavras de Julián Marias “a última razão da insegurança da vida humana reside na condição intrinsecamente problemática da vida humana. Não tem identidade mas pela sua vez consiste em mesmedade: eu sou eu mesmo, em continuidade e permanência, irredutível a cada acto ou vivência. (…) Se não aceitarmos esta dupla condição, se não reconhecermos a forma de realidade que encontramos em cada momento, renunciamos a compreendê-la. Neste facto se encontra o fracasso do conhecimento humano.”
Compreendes? O pórtico tanto é negro como repleto de luz. ;)
O humano é um destruidor? Que é então a flor? Acaso não é esta a bela que suga e se alimenta na terra em que cresce e lhe acalenta a vida? Acaso a flor, assim, tão cândida e bela, não se insinua e toma conta do lugar em que cresce e desabrocha? Não murcha e seca, não retorna e tudo começa de novo?
Que é então um bom livro?
O uivo e o seu bater de asinhas... :)
Existem diferenças abismais entre um homem e uma flor. O homem tem capacidades cognitivas, é dotado de actos reflexivos, tem consciência de si, o seu modo de vida pode ter por base a liberdade e a autonomia. Por tudo isto, o homem tem a capacidade de destruir e corromper a vida de outrem e industrializar as mentes. A flor cinge-se a um ciclo natural, alicerçado na violência natural e necessária para a transformação de todas as coisas.
Um bom livro deve ser precioso de alguma forma para a humanidade. Mas, isso diverge de opinião para opinião, penso que todos os géneros são bons e indispensáveis, excepto aqueles que são enfadonhos, não? ;)
As coisas que tu sabes!!!
Onde teria eu a cabeça para largar esta carrada de disparates bacôcos?
- Ora viva quem é uma flor.
Disparates! É o que é! Filmes!... Portugueses!... Sempre a induzirem a pessoa em erro.
Uma flor os tomates!
O homem é o mau da fita e mainada! É um virús! Onde se instala é o caos e o caos é mau. Haviam é de chamar os amaricanos para acabar com o caos... e com os livros enfadonhos, e já agora que definissem muito bem o que isso é. Se tivessem dúvidas, que te consultassem, já que pensas de que... e pensas muito bem.
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