sábado, abril 29, 2006

Os Restos Dos Outros


Em propensão cultural suscito o vosso interesse em ver um exímio documentário de 2000, onde o tempo que se estende é um lugar comum para aspectos de uma outra realidade que é ignorada pela maioria dos viventes, Les Glaneurs et la Glaneuse (Os Respigadores e a Respigadora) da realizadora Agnés Varda.
Diante de uma França actual, como país desenvolvido mas, que podia ser qualquer outro, Varda revela-nos através da sua pequena câmara digital, respigadores e respigadoras, recuperadores e recolhedores que por carência, acaso ou escolha, recuperam, mexem, transformam, usam os restos dos outros. Paradoxalmente, são demonstradas as assimetrias económicas e sociais que advêm de velhos tempos e que se enraizaram na terra. Parece ser um tema gasto, embora consista numa outra abordagem que enceta com o quadro de Millet sobre as respigadoras e acaba com outro quadro de respigadores. Varda, também é uma respigadora que com a sua câmara apanha as espigas que restam no campo depois de ceifado. Porém, a excelência da película está no facto de não existirem personagens, mas sim, pessoas, uma que demonstra uma nova maneira de estar na vida da sociedade consumista enquanto respigador dos mercados urbanos. É sobretudo evidenciado o lado dos oprimidos, a poesia dos “fracos”, daqueles que recolhem restos. Tudo isto, a par de a própria realizadora encontrar o encantamento poético-visual do seu envelhecimento e das coisas.

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