Desde o mês passado encontra-se nas livrarias a edição portuguesa da obra de Michel Onfray, Tratado de Ateologia com o cunho das Edições Asa. Brilhante, lúcido e um auxiliar indispensável para as cabeças ganharem asas e começarem a elaborar juízo crítico.
«Não se mata um sopro, um vento, um odor, não se mata um sonho, uma aspiração. Deus fabricado pelos mortais à sua imagem, hipostasiada, não existe senão para tornar a vida quotidiana possível, apesar do trajecto de cada um em direcção ao nada. Enquanto os homens tiverem de morrer, uma parte deles não suportará essa ideia e inventará subterfúgios. Não se assassina um subterfúgio, não podemos matá-lo. É ele que nos mata: Deus mata tudo o que lhe resiste. Num primeiro momento a Razão, a Inteligência, o Espírito Crítico. O resto sucede-se por reacção em cadeia...
O último dos deuses desaparecerá com o último dos homens. E com ele a crença, o medo, a angústia, essas máquinas de criar divindades. O terror perante o vazio, a incapacidade de integrar a morte como um processo natural, inevitável, com o qual é necessário formar um todo, perante o qual só a inteligência poderá produzir efeitos, e negá-los também, a ausência de sentido para lá daquele que atribuímos, o absurdo a priori, eis os raios geneológicos do divino. A morte de Deus supõe a domesticação do nada.»
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«A missa dominical nunca primou como momento de reflexão, de análise, de cultura e de saber difundido e trocado, e quanto ao catecismo, muito menos. O mesmo se passa nas outras religiões monoteístas. Quer nas orações junto do Muro das lamentações ou nas Cinco Ocasiões diárias dos muçulmanos ora-se, pratica-se as invocações, exerce-se a memória, mas nunca a inteligência»
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