domingo, outubro 01, 2006

Últimas Considerações à Nabice "Literária"


Muitos pensam que estou obcecada. Os mais inteligentes discorrem que o fiasco do Dan Brown português é uma portaria ao escárnio. Outros podem acusar-me de enfatuação verbal dedicada à idiotice de um jovem “escritor”, que se embute numa carapaça de “autodidacta”, escondendo a sua hipercerebração manhosa. Poucos afirmam que as camisas aos quadradinhos piquenique de Luís Miguel Rocha, são o meu objecto recente de fetiche.

Na passada Sexta-Feira, por volta das 19h30, peguei em mim, e fui apreciar a vinda do circo pobre à cidade, ou seja, fui até ao lançamento da embustice de O Último Papa, que foi contemplado por uma escassa plateia. Permitam-me, que quase adivinhe, que a plateia era composta exclusivamente pela equipa editorial, alguns amigos, distribuidores da “obra”, seguidores de José Viegas e um ou dois curiosos.

Devo dizer que não se registou literalmente uma liturgia de lambe cus, em paradoxo, assistiu-se a uma espécie de velório à consentida putrefacção e leviandade literária, encerrada num cenário musical, aquém do esotérico e distante do mórbido. O holofote dirigiu-se para uma projecção do “escritor” em que, se subentendia, um bajulamento doméstico ensaiado, uma glória à conspiração que, afinal, resulta numa mixórdia de ficção e verdade segundo o mesmo. Por outras palavras, assistiu-se a um trilhar civilizado do emergente “escritor” parvónio, que se espalha ao comprido no dia do lançamento e, na sua entrevista ao Público de Sábado e noutros meios de comunicação social. Contudo, apenas marquei presença no lançamento por breves momentos e, retirei-me, devido à minha falta de paciência para conjecturas não verosímeis, para ouvir gente monocórdica que nada sabe, diversos custos de oportunidade, porque advogo uma rentabilização do meu tempo precioso, ausência de público, um beberete desgraçado, uma tremenda dolência pelo uso das ruínas do Convento do Carmo como espaço para uma embustice, a colocação dos poucos livros não estavam dispostos segundo o Feng Shui, porque não corroboro com estratégias de marketing e há que preterir por uma ida ao Bairro Alto para um tilintar de copos. Mas, face à minha teimosia insubordinada, obrigo-me, mais uma vez, a formular algumas considerações de maior interesse.

Há que criticar, novamente, o exibicionismo desmedido, bem como, as ilações relativas ao sucesso do livro pois podem ser uma armadilha como se verificou esta Sexta-Feira. Por isso, advirto o “escritor” criativo para controlar a sua gula pelo protagonismo e pela ribalta, de forma a melhor satisfazer a sua ambição injustificável.

Observe-se também, que o cartaz de O Último Papa, graças ao sensacionalismo, assemelhava-se a uma apresentação de um livro fantástico com requintes de malvadez, que tenta atemorizar “agora, outros inocentes vão morrer” e dirigido a um público de jovens adolescentes.

No que respeita à fraca adesão do público, aconselho de forma desinteressada, que para um eventual lançamento póstumo, este deve ser realizado num espaço consideravelmente menos amplo, para que se pareça que a sala está repleta de leitores e convidados, com o objectivo de não se atingir a latitude do insucesso da coisa.

Quanto ao Luís Miguel Rocha considerar-se um escritor autodidacta, ou seja, aquele que aprende sem mestre, as pessoas partem do princípio, que haja da parte do “escritor” um aproveitamento condecoroso das suas capacidades cognitivas e intelectuais e, que lhe seja reconhecido o mérito e, não pulhices e escândalos, sobretudo, ao evidenciar um discurso descabido, incoerente que despreza a inteligência do público leitor.

Por conseguinte, devo mencionar que não basta romancear as conspirações. Em vez de se apresentar justificações das trapalhadas, é preciso anunciar uma simplificação acessível dos factos ao público e, não afirmar que a “obra literária” é, no final de contas, uma mistura de ficção com a verdade. Recordo que numa entrevista que o “escritor” concedeu à RTP, afirma que a diferença entre O Código Da Vinci e O Último Papa é que este não é um livro de ficção!

É igualmente hilariante a dispersão pela intrujice, saber-se que a editora Saída de Emergência efectuou uma tiragem de 30 mil exemplares de O Último Papa numa primeira edição. Note-se, que as tiragens no nosso país são entre mil e dois mil exemplares devido ao nosso pequeno mercado. Assim, suspeita-se a confirmação que esta gente não é de todo pragmática, desconhece o mercado literário português ou, subestimam as avaliações do público leitor e da concorrência editorial.

A palhaçada ainda é maior quando, o jovem “escritor” emergente, assume que lhe foi imposto escrever o livro com a missão de revelar a verdade às pessoas. Subentendo que tal afirmação é um insulto à inteligência de outrem, uma demonstração de desonestidade perversa ao esconder as suas intenções pretensiosas e de um descaramento atroz. Não sei… mas, enquanto estive presente no lançamento não dei conta que um sujeito estivesse a apontar uma arma ao Luís Miguel Rocha, pelo contrário, lá estava o “escritor” a regozijar-se com seu discurso de trazer por casa.

Calculo também, que o pequeno Dan Brown português ao declarar que “vivemos numa realidade ficcionada”, per si, é uma óptima razão para se atingir a realidade translúcida e não elaborar uma sobreposição ficcionada.

Note-se, que Luís Miguel Rocha ainda dá cartas na invenção de designar a sua fonte de “garganta funda” ao que podemos descortinar, numa suposição audaz, que se trata de uma homenagem à película pornográfica Garganta Funda e aos seus tempos de puberdade. Ou será que o autor quer fazer deste espectáculo um Watergate case?

Num desenvolvimento extraordinário dos acontecimentos, o emergente “escritor” declara ao Corriere della Sera e aos media portugueses, que conhece o assassino e que este lhe entregou em sua posse os documentos que confirmam o assassínio do Papa João Paulo I. Logo, se algum dia se se confirmar tamanha tramóia, Luís Miguel Rocha pode ser acusado de má fé e, como ilicitamente colaborou no encobrimento dos devaneios de um homicida, obstruiu e usurpou a verdade dos factos. Absurdo por absurdo, até já se pode antever um novo policial literário.

O “escritor” autodidacta, na sua abençoada impertinência e habitual estupidificação, diz que não se preocupa com a credibilidade dos documentos nem dos factos. Parece que não se deu ao trabalho de realizar um trabalho de investigação e apurar a autenticidade dos mesmos. Actualmente ousa entregar a investigação nas mãos dos jornalistas, isto é, “toca a passar a pasta”. Em contradição, o autor inepto, desde 2005 difunde e garante escrever toda a verdade sobre o assassinato do Papa e que o livro, mais uma vez, não se tratava de uma obra de ficção.

Constate-se igualmente, que Luís Miguel Rocha a priori veio dizer que o seu “livro” seria editado em 50 países, presentemente, vai ser publicado em 22 países.
Mas, o editor incutido pela gabarolice, igualmente “mete os pés pelas mãos”. Se antes afirmava que o Dan Brown escreveria e iria reconhecer o autor inábil com uma frasezita na contracapa, tal não se verificou.

Quanto a Francisco Viegas, um intelectual estimado, perdeu prestígio ao "apadrinhar" Luís Miguel Rocha. Orienta-se por um discurso de anulação de responsabilidade ao considerar que todo este alarido é uma tese que espera estar documentada. Embora, exista a probabilidade de tudo ser desmentido a curto prazo. Quanto às qualidades literárias e referências do jovem autodidacta essas são inteiramente desconhecidas e não apreciadas.

Em resumo e sem lamentações, como é sabido nos tempos hodiernos o requisito exigido para se alcançar o êxito comercial, é apenas escrever sobre tudo, TUDO, excepto a verdade. Por tudo isto, vender papel por vender, manter a indústria da conspiração por manter, mais vale cuspir na nossa sociedade civilizada que se prepara para atingir o estado de uma nova ditadura radicada na negação de pensar, discernir, reflectir e concluir. Diversos personagens aproveitam-se desta situação e consideram, mais uma vez, que o público é uma abjecta marioneta obtusa susceptível de ser chulada.

15 comentários:

Anónimo disse...

Fontes divinas revelam que Camilo José Cela já demonstrou a sua vontade em ressuscitar de modo a poder estar presente na apresentação do livro em Madrid e em Barcelona.

Aquela do "Agora, outros inocentes vão morrer", não sei, assim de repente fez-me ficar sem palavras.

1/2Kg de Broa disse...

Ainda não tive oportunidade de saber muita coisa acerca deste livro, mas da maneira que as coisas andam neste país eu faço de conta que acredito em tudo mas desconfio de tudo. Se calhar irei ler o livro.
Se o fizer depois venho contar se é verdade ou não, porque também tenho meia dúzia de pães de leite e 2 cacetes no Vaticano à coca. ;)

Anónimo disse...

Ok... Fizeste-me de rir.
Deixa-me adivinhar... és um(a) escritor(a) frustado que nunca conseguiu nada.

Quando não se gosta, não se vê...
Mas sabes como se diz:

- Não interessa se falam bem ou mal. Desde que falem.

Nevrótica Aluada disse...

FP,

com certeza que estará presente para proferir algumas ilações sobre o tremendorismo da coisa.

Lançamentos e sessões espíritas pode ser considerado uma boa aposta de marketing! Epah FP não estejas a dar ideias. :P

Nevrótica Aluada disse...

Ó Broa, isso de andar à coca… é muito suspeito pah! Não é preciso ir dar uma grande volta, basta ir à costa literal portuguesa!

Só te digo o seguinte: antes os pães-de-leite e os 2 cacetes que a regueifa! :P

Nevrótica Aluada disse...

Anónimo,

agrada-me que tenhas exercitado os 17 músculos faciais. :)

Devo sublinhar que a diferença entre a frustração e a arte vicentina de escárnio e maldizer, que atende e expõe os “males” da sociedade, é colossal. O post centra-se em considerações e a minha opinião conclusiva sobre este “clima” literário está bastante explícito no último parágrafo. ;)

Não sou escritora e caso fosse teria como referências contemporâneas, passo a citar alguns: Vergílio Ferreira, Teixeira de Pascoaes, Fernando Campos, José Régio, José Cardoso Pires, João Aguiar…

Mas, se alinhar pelas teias da conspiração, vou afiançar que o Graal está entre a Falagueira e o Largo da Brandoa. :P

Concordo com essa máxima, “Não interessa se falam bem ou mal. Desde que falem”, no sentido de informar as pessoas e para que haja uma interpretação livre dos factos. ;)

travis disse...

Cala-te herege antes que a fúria do céu se abata sobre ti!!! O Graal está na posse de Otelo Saraiva de Carvalho (para saber sobre estes e mais casos comprem o meu livro "casos impossiveis resolvidos pelo fantástico Mr X e pelo Garganta Funda" editora Convento do Carmo.
X

Barão da Tróia II disse...

Inda não percebi porra desta história, atão mas qual é o problema, este livro não é um romance, como o outro do Brown, atão para quê este alarido todo. Boa semana

Anónimo disse...

Já li o dito livro e agora compreendo porque o atacam. Ele não diz nada que seja mentira... E, se viermos a descobrir que inventou os documentos, então é um génio... como acho que ele não é um génio, e se os documentos podem mesmo existir, então que Deus ou algo superior tenha piedade de todos nós...

Nevrótica Aluada disse...

Ó X,

posso te garantir que o “garganta funda” disse-me, em off the record, que o Otelo Saraiva de Carvalho é a incarnação masculina da Mona Lisa dos nossos tempos a ser afixado, post mortem, na Fundação Mário Soares.

Uma vez lido o teu post, aviso-te já que no dia do lançamento faço parte das 20 pessoas a quem pagas regiamente para estar presente, e pagas-me a dobrar porque ainda te faço uma encenação à la mode do Viegas, chamo-te miúdo corajoso, com graça, atrevido e que não me admirava nada que isto tudo venha a ser desmentido. Olha lá, vai pensando também onde é que vai ser a jantarada a seguir ao lançar da coisa. :P

Nevrótica Aluada disse...

Louco,

sabe-se lá porquê… esquizofrenia a minha, esses movimentos “toma lá, dá cá” fazem-me projectar uma masturbação colectiva, ou seja, movimentos de egocentrismo e puro e duro oportunismo.

Nevrótica Aluada disse...

Barão,

segundo o autor a diferença é que ele relata factos verídicos, aiii… espera!!! afinal o Dan Brown português declarou que é uma mistura de escrita criativa com verdade de fontes de dimensões etéreas e que ele não se deu ao trabalho de confirmar.

O pessoal anda farto de percepcionar os jogos, conspirações, sensacionalismos, pretensões e manhosices, se temos um apito dourado, também temos direito a um “golden pope book”. :P

Excelente semana de baronices!

Nevrótica Aluada disse...

Anónimo,

ainda bem que leu o livro mas, discordo, ele ataca é a inteligência de qualquer ser humano com o seu protagonismo alarmante e com o seu “disse que disse”, além disso, o jovem "escritor emergente" não é um génio, como ele afirma, a sua versatilidade é a escrita criativa, invenções copy paste anda o mundo cheio.

Pelo seu discurso alarmante, sugiro que pondere tais situações autenticamente inquietantes, mais um vez, divulgadas na imprensa de hoje: sabe que em 2050 um terço dos portugueses terá 65 anos? Que a comparticipação nos medicamentos dos diabéticos é mínima? Que tem um havido um aumento de bullying nas escolas portuguesas? Que o processo de Bolonha está a ser um barrete? Que a erradicação da pobreza é uma utopia? etc, etc, etc.

Quanto ao “O Último Papa” esteja descansado, nem recorra ao victan, que Deus têm piedade de todos nós e o mundo não acaba amanhã.

the outsider disse...

deixem-se de tretas

Bruno disse...

O seu texto é típico de um ceguinho social: "Está tudo bem a igreja, o governo e Deus olham por nós", voltem para o sono profundo e vão ver TV.

O tempo que esteve a escrever isto, seria o suficiente para investigar alguns pontos deste livro. Não digo que tudo o que lá está seja verdade, mas é FACTO tudo o que se relaciona com datas e principalmente com a loja maçónica P2 que se provou já ser criminosa.

A Internet é um mundo onde há muita treta, este texto é um exemplo disso, o livro também a poderá ser mas há mais factos lá do que aqui.
Agora o Dan Brown, esse sim, escreve, escreve, escreve, afirma "factos" que não são mais do que deturpações e desvia a atenção das pessoas do que é real na história.

Investigue antes de escrever, só lhe ficaria bem e os seus leitores mais influenciáveis irão agradecer.