domingo, setembro 17, 2006

Water, o Esperado


Na esteira da trilogia dos elementos terrestres Fire, Earth segue-se a esperada estreia em cartaz de Water da cineasta indiana Deepa Mehta, radicada no Canadá. Water é um filme sublime, luminoso, sensível e tocante. Os cenários e a qualidade de imagem são extraordinários, imperam os azuis turquesa, amarelos e vermelhos. O filme, apesar de ser uma obra de ficção, expõe de forma extraordinária a realidade das viúvas da Índia colonial dos anos 30, contando a história da encantadora e inteligente Chuyia, uma jovem noiva hindu que tem apenas 8 anos de idade. Quando o marido morre, a inocente Chuyia vai ficar aprisionada às tradições religiosas: as pulseiras são quebradas, a cabeça é rapada, veste um sari branco, a única veste permitida para uma pária “impura” e é mandada para um refúgio de viúvas, um ashram, onde deve ficar para sempre, sem comunicar com a família, outras crianças, mulheres e homens, à excepçao, das restantes companheiras viúvas.
O ashram é uma casa que protege e auxilia as viúvas desamparadas e obriga a pedirem perdão pelos seus pecados. O único festival que podem celebrar é o Holi. As viúvas são consideradas uma responsabilidade e um fardo para as famílias as sustentarem, uma ameaça à apropriação dos bens do falecido marido e são consideradas mulheres sexualmente perigosas. Todavia, a pequena Chuyia vai conviver com as restantes viúvas de condição adulta na esperança vã que a sua mãe a virá buscar, mais cedo ou mais tarde.
Ao longo do filme conhecemos as histórias pessoais das viúvas: a velhinha que vive no ashram desde os 7 anos de idade e cujo único sonho é comer novamente um dos doces que provou na cerimónia do seu casamento, Shakuntala é uma mulher de meia idade, inteligente e astuta que sofre ao percepcionar que está a envelhecer e vive dividida entre a revolta pela sua situação, pela compreensão das tradições e o medo de não se comportar de forma adequada. Existe também a poderosa Didi, que é a “chefe” da casa e que desfruta de determinadas regalias e a bela e atractiva Kalyani que aos 17 anos de idade, estando na casa desde os 8, é a única mulher que tem a autorização de usar os cabelos longos, que sustenta as regalias de Didi, como o ashram através da prostituição.

É com a chegada de Chuyia, o amor não bem visto de Kalyani pelo jovem indiano nacionalista Narayana, o suicídio de Kalyani, a revolta de Shakuntala, bem como, o contexto social da Índia em mudança, o questionar das interpretações religiosas que travam o progresso social e os direitos das mulheres e, a ascenção de Ghandi que vai revolver as mentes e o ashram mas sem a garantia de um êxito total.
Ainda hoje existem instituições como esta na Índia, onde não são reconhecidos quaisquer direitos às mulheres. Estimam-se que existem 20 mil viúvas que mendigam à beira do rio Ganges. O censo de 1991 indica que 8% da população feminina da Índia são viúvas, o que significa cerca de 34 milhões de pessoas.

Inicialmente, o filme era para ser filmado no país porém, os fundamentalistas hindus opuseram-se gerando tumultos e ameaças de morte à realizadora, obrigando ao cancelamento das filmagens que duraram cinco anos, e que tiveram de continuar no Sri Lanka.
Sob o elemento primordial da água e do seu ciclo, que metaforicamente é o ciclo da vida e da morte, das experiências, da clarificação e da pureza e igualmente, da força destruidora que flúi em direcção à renovação do pensamento e modos de vida.

1 comentário:

motormotor disse...

Importante!