domingo, novembro 25, 2007

Under Control


Bazófias Absortas

Quem sabe se eu fosse diferente, num instante loira, Francisca, Cisca de diamante falso sem taco de golf. Quem sabe se eu gostasse de croché, num momento pudica estrangulada sem blusa de renda. Quem sabe se eu mudasse para puta, num ápice elegante sem neons de Chicago. Inválidos são os tratos por “você”, a literatura entediante peruana, uma aristocracia vagabunda, a inútil preocupação. Estranha malformação consciente daquele que me faz passar por mulherzinha malvada, grave é o insulto à minha apatia. O movimento não é inequívoco, é uma queda na sandice, a exuberância de plástico dos quarenta, uma idiotice.
O aviso presenteia-se para não mais atentados à indisponibilidade, não me façam de asinina, se quero fins de tarde gin com piano.

Gorgeous Melancholy

Morningrise - Slowdive

sábado, novembro 24, 2007

Rota Pardacenta


Não há facas para afiar nem tesouras, enganados são os dias pela noite, sisudos são os arredores de uma cidade erosiva. O amolador não passou, a chuva não voltou.
(Joseph Plaskett Painting)

quarta-feira, novembro 07, 2007

Glamour Espresso

Entre retalhos de exuberância, o glamour é uma ordem, as figurações revelam-se em art nouveau. Lavazza, a marca italiana conceituada de cafés traz-nos à ribalta o seu novo calendário para 2008 com o saboroso tema The Most Majestic Espresso Experience. A 16ª edição do calendário Lavazza é marcada pela opulência do excelente trabalho do fotógrafo escocês Finlay MacKay e, um dos modelos exibidos é desenhado pela estilista britânica Viviane Westwood. As fotos sumptuosas traçam rumos até ao imaginário da aristocracia francesa do século XVIII, de domínios paradisíacos, cortes imperiais chinesas e tempos cavalheiresco-medieval, onde as mulheres são rainhas soberanas, num mundo encantado e de charme, de tecidos caros como a seda, de veludos, jóias da joalharia Damiani, animais em liberdade e um total cenário luxuoso, requintado, de rasgos surrealistas, sensual e ao mesmo tempo delicado, de cores exactas e de total sofisticação. Como apreciadora de café e de tudo o que envolva o ritual do café, é com os mesmos olhos que vejo a elegância e a sensualidade que estes momentos podem ter numa preciosa harmonia com o cheiro, sabor e textura.
Para saber e ver mais: aqui.

Vozes Subterrâneas

De aparência cansada, de rugas que se alastram, de mãos reveladas a negro num corpo pesado pela ruína, trajado a camisa de flanela, solitário, critico político ao abrigo de uma voz tremida que canta um fado desgarrado que relembra amores, de como ficamos desorganizados, como nos libertamos do escuro, num quadro sem dia e sem noite. O homem sente sob os olhos dos inquisidores desacertados. Pele café, pele gretada, um andar desajeitado que rompe os passos exactos e seguros dos outros, promessas de verões e a densidade de uma voz que se alastra pelos corredores, um eco de alma em tafetá, um fado sem público que mais parece espantar as agruras de uma vida que não se adivinha fácil. A mulher sente sob os olhos dos ortodoxos conspurcados. Dizem que são os loucos da linha azul do metro.

terça-feira, novembro 06, 2007

O Humanista do Douro



A noite e o Teatro São Luiz lotado de figuras aguardavam pela homenagem, reconhecimento ou conhecimento do psiquiatra, ilustre psicanalista português, o maior entusiasta da depressão. O evento foi marcado pelo documentário alusivo ao lançamento da biografia Percursos com António Coimbra de Matos de Ricardo Fernandes e Inês Moura Gonçalves, editada pela Climepsi, que retrata as origens, a vida, a pessoa e o homem humanista que é Coimbra de Matos. Os momentos registaram-se reflexivos, audazes, cómicos, vernáculos, próprios de quem consegue sentir as pessoas em relação psicoterapeuta, aquele que “egoistamente, tornei-me relacional”. Um dos episódios auge da noite ficou a cargo do relato de Coimbra de Matos, no documentário, acerca de um paciente comunista acérrimo, de fortes convicções e aspirações de esquerda que, nas várias sessões de psicanálise, contava sempre a sua perturbação relativa ao pénis erecto com inclinação para a direita entre 5 a 10 graus, Coimbra de Matos, farto da mesma história, respondeu que o homem tinha toda a razão, um comunista, um homem de esquerda, cheio de convicções, de ideais teve logo que calhar com um caralho fascista.

segunda-feira, novembro 05, 2007

A Insustentável Leveza dos Insonsos…


Será natural que me peçam para desenhar a estrada da minha vida? Séquito extraordinário é este sobre como travar conhecimento e quebrar o gelo num ambiente de indivíduos insondados? Em condicionalismo antropológico, recuamos a tempos ancestrais, onde indígenas celebravam a vida através da dança e do jogo enquadrada num estado cooperativo. O estado cooperativo é um apelo directo à interacção, actualmente é um convite a figuras de montra, de significado comum e desamparado pela facticiedade. A superficialidade de desenhar numa folha de papel a nossa estrada poderá parecer um momento divertido ou insignificante. Porém, o sentido mais dramático, é de nos evidenciarmos como sugestivos, criativos, dinâmicos e repletos de frases feitas como “quero ser feliz”, qual concurso Miss Venezuela! Há que escarrapachar as vivências boas ou más, os desejos, os sonhos e os planos que são metamorfoseados em traços horizontais, verticais, perpendiculares, e rotundas sob o olhar psicanalítico dissimulado e comparativo.
No final, a missão é encaixar todas as estradas dos elementos no chão para surgir a estrada global, para conhecermos o outro e, sentirmo-nos integrados num grupo de gente que nunca cheiramos e vimos. Contudo, em nefasta invenção a única a desenhar uma estrada dúbia fui eu, criatura limitada. Porque não uma estrada em espiral? Trinta e tal pessoas optaram por estradas padrão, dotadas de formatação normal, inclusive com semáforos, sinaléticas, sóis, árvores, flores e prédios e, quem sabe, o rasto de poeira e partículas de monóxido de carbono. Havia jurado ser mais sensata e não cair nas garras da distopia, estimar a superfície das coisas, mesmo estando perante a minha estrada desoladora, aparentemente inútil, que não se entalhava em lado nenhum ou em porra nenhuma! Criatura desordenada? Pseudocriativa? Naïve? Caprichosa? Esquizitóide com tendências esquizóides? Desrespeitadora dos contextos? Nevrótica el quiebra ley?
Nestes jogos quebra-gelo o desenvolvimento do potencial humano é condicionado, ponto assente… O condicionalismo não anula a liberdade, faz parte de nós, mas também dificulta a transformarmo-nos no que somos e a assumi-lo. O modo como representamos as coisas depende de nós próprios, acima disso está a decisão livre, decisão de conferir sentido e, não há qualquer sentido em esmagar a individualidade do ser humano em nome do senso da unidade grupal e solidária, do envolvimento de todos de acordo com as suas habilidades, do estímulo à partilha e à confiança, do fortalecimento perseverante frente às dificuldades, do reforço dos conceitos de nível auto como a auto-estima e auto-aceitação, da criação de pontes com as pessoas, até ao encontro do caminho pessoal para se crescer e expandir. Tantas etapas e nunca nos haviamos encontrado, tirado impressões. Os objectivos destes joguinhos para unir o grupo desde o início da “sessão” são uma tremenda decepção. No meu caso, não memorizei o nome dos colegas, não criei empatia, não me soltei, nem me descontrai e não superei reservas pessoais. Seria contraproducente realçar uma atitude de exibicionismo da diferença se, o paradigma, é sermos variavelmente diferentes. Diferentes do ponto visto genético que se edifica com a nossa exogamia, diferentes face a uma variedade cultural, linguista e ambiental e, ainda, a consciência, o meio pelo qual nos podemos conhecer e modificar. Tudo isto é correcto, basicamente somos, ou podemos ser, imprevisíveis. A decepção começa com a vivência em grupo, em comunidade organizada cuja prioridade é tornarmo-nos previsíveis uns para os outros, ordenados enfadonhos, sem liberdade de nos modificarmos e, isto, nem sequer coloca o respeito pelo outro em causa. Para quebrar o gelo, em qualquer situação, basta cubos de gelo, bourbon, frases soltas, boa literatura, música e conversas em forma de cereja como acesso ao outro.